terça-feira, 20 de outubro de 2009

Monteiro Lobato: polêmica com Anita Malfatti


Nacionalista exacerbado, Lobato causou polêmica ao publicar em 20 de dezembro de 1917 no jornal O Estado de S. Paulo o contundente artigo intitulado “Paranóia ou Mistificação – a propósito da Exposição Malfatti”, no qual ataca a arte moderna, de forma a rebaixar seu valor, caracterizando um dos episódios mais controversos na vida do escritor.

Em tal artigo Lobato critica a exposição de Anita Malfatti durante a Semana de Arte Moderna. Embora demonstrasse profundo desgosto pela nova estética que propunham os modernistas, o escritor não deixa de reconhecer as qualidades da artista.

São evidentes os elogios de Lobato a Malfatti, no que diz respeito ao seu talento, porém, sua crítica consistia em atacar a orientação estética a que a artista estava filiada, conforme excerto abaixo retirado do artigo:


Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. [...]. A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro.

Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida para má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva, em que alto grau possui um sem-número de qualidades inatas e adquiridas das mais fecundas para construir uma sólida individualidade artística. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura.

Acontecimento de grande impacto na vida da jovem artista, ela teve grande dificuldade em manter seu estilo. Recolheu-se por um período após a crítica e passou a se interessar por naturezas-mortas passando a estudar com o pintor acadêmico Pedro Alexandrino.

O que se entende atualmente é que Lobato tenha se precipitado ao criticar a exposição modernista, uma vez que não compareceu ao evento, além de ter sido ele próprio moderno em sua produção literária. Moderno foi ao romper com os padrões vigentes de sua época, impondo uma linguagem coloquial, espontânea, afetiva; ao mostrar o ponto de vista da criança até então ignorada pela literatura infantil; ao criar novas expectativas e adequá-las à recepção de seus textos; ao impor nova ideologia, adotando uma visão crítica do Brasil.

Assim, embora criticasse os modernistas, que tentavam impor novos modelos estéticos inspirados nas vanguardas européias, Monteiro Lobato não percebeu que ele próprio havia sido moderno ao romper os padrões impostos em sua época.


Referências:


ACERVO. Roteiros de visita. São Paulo: MAC USP, 2004.
AGUIAR, João H. C. Monteiro. Crítica ou opinião? Os casos Anita Malfatti em 1917 e Ateliê do Engenho de Dentro em 1949. Revista Habitus: revista eletrônica dos alunos de graduação em Ciências Sociais - IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 53-66, dez. 2008. Semestral. Disponível em: <
www.habitus.ifcs.ufrj.br>. Acesso em: 15 dez 2008.
KATINSKY, Julio Roberto. Anita Malfatti de Marta Rossetti Batista. Revista do IEB. Edição n. 45, setembro de 2007.
PARANÓIA ou mistificação? Disponível em: <
http://www.artelivre.net/html/literatura/al_literatura_paranoia_ou_mistificacao.htm>. Acesso em: 18/10/09.
ZILBERMAN, Regina. Atualidade de Monteiro Lobato. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.

O Precursor da Literatura Infantil

A idéia de precursor atribuída a Monteiro Lobato no que diz respeito à literatura infantil brasileira provêm da sua contribuição significativa para a formação da literatura infantil contemporânea, já que ele apresenta a voz criança em suas obras e não apenas as personifica.
O lançamento de seu primeiro livro A menina do nariz arrebitado aconteceu no momento em que os ideais modernistas fervilhavam no Brasil. O Movimento Modernista que inicialmente propunha a atualização do país em relação à Europa acabou por negar o passado e toda a influência exercida por Portugal. As mudanças que ocorrem com o conceito de infância na virada do século exerceram uma profunda influência na concepção da obra lobatiana.
A criança do século XIX não será a mesma do século XX. O avanço da medicina, a preocupação em relação à higiene, o surgimento da penicilina, os estudos psicológicos e pedagógicos dão uma nova dimensão e um novo significado à infância.
Sendo assim, a literatura destinada a elas também passa por uma transformação, visto que elas deixarão de ser consideradas adultos pequenos, para serem vistas apenas como crianças que necessitam de cuidados apropriados à sua condição. Dessa maneira, vale ressaltar a idéia da valorização do contexto histórico para propor uma reflexão sobre o papel que Lobato ocupou e vem ocupando ao longo de diversas gerações tomado como o criador da literatura infantil no Brasil.

O Projeto lobatiano: a pena e o escritor

Um primeiro ponto que chama a atenção em Monteiro Lobato e que o distingue de outros escritores do mesmo período é o fato de que ele concebeu um projeto eminentemente literário, pois, ao contrário de outros literatos contemporâneos do escritor paulista, a literatura não constituía mero veículo das transformações ou simples porta-voz das idéias de mudança, mas o próprio instrumento das transformações. A novidade do projeto literário de Lobato é seu desdobramento em duas frentes igualmente importantes: a própria escrita literária e o empreendimento editorial. Aqui me ocuparei do texto lobatiano.
Em carta endereçada ao seu amigo Godofredo Rangel em 1908 - portanto, bem antes de se tornar um autor consagrado -, Lobato já indica qual o material que mais tarde utilizará em seus contos: Os artistas subjetivos que só tiram de si em vez de tirar do mundo que os rodeia, ficam introspectivos em excesso e acabam satisfazendo a um público muito restrito: a si mesmos.
Lobato, pois, era um escritor que valorizava a observação cuidadosa do ambiente que o circundava - fruto da influência das teorias cientificistas do início do século - para justamente cumprir aquele que julgava ser o papel social do intelectual: produzir conhecimento e torná-lo acessível a um público sempre maior.

O Sítio do Picapau Amarelo


O Sítio do Picapau Amarelo constitui sempre o ponto de entrada de todas as narrativas de Monteiro Lobato, pelo menos, daquelas cuja a ação é desempenhada pelos netos de Dona Benta. Em Reinações de Narizinho, O Sítio é propriedade de Dona Benta, que vive acompanhada de sua neta – a garota Lúcia, conhecida por Narizinho – e de uma antiga e fiel cozinheira, Tia Nastácia. O Sítio do Picapau Amarelo não é apenas o cenário onde transcorre a ação, ele representa uma concepção de mundo e de sociedade, bem como uma tomada de posição a propósito da criação de obras infantis. O Sítio está corporificado num projeto estético que envolve a literatura infantil e uma aspiração política que envolve o Brasil. O caráter metafórico do Sítio é o Brasil, estando embutido nele tudo o que Monteiro Lobato queria representar de sua pátria. Ele se permite renegar alguns mitos antigos, para que mitos contemporâneos ocupem esta lacuna (integração do rural x urbano, em especial, a integração da modernidade).

(Literatura Infantil Brasileira Histórias e Histórias - Marisa Lajolo e Regina Zilberman.)

Reinações de Narizinho


Reinações de Narizinho (1931) é o livro de origem da saga O Sítio do Picapau Amarelo, remodelando a história original de Narizinho e reunindo algumas outras obras de Monteiro Lobato. A obra dá início a etapa mais fértil da ficção brasileira, pois, resgata o patrimônio cultural da humanidade e enriquece a experiência de leitura de crianças e adolescentes. Em Reinações de Narizinho, Monteiro Lobato vai tramando uma série de infinitas cenas e aventuras, em que a realidade e a fantasia, se misturam de maneira inacreditável – tal qual se dá normalmente na cabeça da criança. O encanto que a criança encontra nessas histórias, vem sobretudo, da participação que esta possue na narrativa: a história é contada a partir do ponto de vista da própria criança e, antes de ensinar, procura interessar e divertir o leitor.

(
Literatura Infantil Brasileira Histórias e Histórias - Marisa Lajolo e Regina Zilberman.)

Reinações de Narizinho




terça-feira, 22 de setembro de 2009

Monteiro Lobato





Monteiro Lobato nasceu na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Formado em Direito, atuou como Promotor Público até se tornar fazendeiro, após receber herança deixada pelo avô. Diante do novo estilo de vida, Lobato publicou seus primeiros contos em jornais e revistas, sendo que, posteriormente, reuniu uma série deles em "Urupês", uma de suas obras primas.
Além de grande escritor da Literatura Brasileira, Monteiro Lobato tornou-se editor, passando a editar livros no Brasil. Com isso, implantou uma série de renovações nos livros didáticos e infantis. Era um escritor bastante conhecido entre as crianças, pois se dedicava a um estilo de escrita com linguagem simples onde a realidade e a fantasia estavam lado a lado. Pode-se dizer que ele foi o precursor da literatura infantil no Brasil.
Lobato escreveu obras incríveis da literatura infantil, como: A Menina do Nariz Arrebitado, O Saci, Fábulas do Marquês de Rabicó, Aventuras do Príncipe, Noivado de Narizinho, O Pó de Pirlimpimpim, Reinações de Narizinho, As Caçadas de Pedrinho, Emília no País da Gramática, Memórias da Emília, O Poço do Visconde, O Pica-Pau Amarelo e A Chave do Tamanho.
Fora os livros de literatura infantil, este maravilhoso escritor brasileiro,escreveu outras obras literárias, tais como: Choque das Raças, Urupês, A Barca de Gleyre e o Escândalo do Petróleo. Neste último livro, demonstra todo seu nacionalismo, posicionando-se totalmente favorável a exploração de petróleo apenas por empresas brasileiras.
Em 1948, Monteiro Lobato sofreu seu segundo espasmo cerebral e faleceu às 4 horas da madrugada, no dia 4 de julho, aos 66 anos de idade.

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